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Postado em: 12/08/2016 - 11h36

Superação no Tatame e Golpe no Racismo

As mulheres são historicamente discriminadas por gênero, sofrem a opressão do patriarcado e lutam dia a dia para conquistar seus espaços e direitos. Quando essas mesmas mulheres são pobres essa opressão se amplia. Se elas vivem nas favelas e comunidades, essas dificuldades se intensificam seja pelo enfrentamento à violência familiar e/ou urbana, à pobreza, aos “NÃOS” do perverso mercado de trabalho ou até mesmo às longas distâncias, que esgotam a energia e minam a alegria de quem mora longe dos grandes centros. Mas, se além de tudo isso elas ainda forem negras, então, os esforços serão incontáveis e as dores na trajetória deixarão marcas profundas, de uma existência em constante desafio.

Assim ocorreu com a nossa primeira medalhista de ouro nas Olimpíadas 2016 no Brasil, Rafaela Silva. Dedicada a um esporte que em geral recebe menos atenção e investimentos que as modalidades coletivas, Rafaela representa a determinação, a garra e a disciplina da mulher negra brasileira.

O abraço da vitória não apaga as marcas das violências que enfrenta no seu dia a dia, tampouco os maus tratos de uma sociedade racista e embotada, que não se percebe mestiça nem se inclui nos 52% que compõe a população negra brasileira.

Nas Olimpíadas de 2012, após perder uma final, não foi no tatame, mas nas redes sociais que tomou seu maior golpe. Humilhada e tratada com termos pejorativos como “macaca” (ofensa praxe dessa sociedade mouca para a formação e contribuição da raça negra para a formação histórica da nação) reagiu e respondeu à altura, sendo, no entanto, repreendida pelo Comitê Olímpico.

Mas, quatro anos se passaram e, na tarde desta segunda-feira, ela se superou. Honrando a sua cidade, o seu estado e seu país, seu compromisso, dedicação ao esporte e sua perseverança, a judoca Rafaela Silva assinou seu nome na história dos jogos olímpicos no Brasil e no mundo vencendo a luta e deixando para o país a marca da superação de uma atleta no esporte e na vida. É importante citar que Rafaela também é fruto da luta pela democracia, que nos últimos anos criou políticas públicas como as de fomento ao esporte amador, da qual é beneficiária. Cidade de Deus é uma comunidade, um filme internacionalmente conhecido, mas também passou a ser, para o mundo, Rafaela e todas as mulheres negras que ela representa.

Uma campeã na luta e na sobrevivência que supera a pobreza, supera no tatame e golpeia o racismo e a mediocridade. Rafaela representa hoje todas as mulheres, todas as negras, todas as trabalhadoras e trabalhadores que lutam por seus direitos e por uma vida justa e igualitária para todas as brasileiras e brasileiros, e em especial para todas as crianças que poderão se espelhar nela e sonhar também com a superação da desigualdade de gênero, de raça e de condição social.