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Postado em: 03/06/2016 - 15h14

Selfies na Fiesp, bombas para os sem-teto

Ontem, quarta-feira (1º), a avenida Paulista foi palco de cenas de selvageria. A Polícia Militar de São Paulo conseguiu transformar uma manifestação pacífica de luta por moradia em um conflito violento, com presos e feridos.

Dentre outras agressões gratuitas, correu o país a imagem chocante da médica Erika Sampaio sendo atirada ao chão, tomando um “mata-leão” e agredida por dois policiais homens. Num momento em que a violência contra a mulher está em pauta, esse é o exemplo que o Estado oferece.

Uma semana antes, os sem-teto já haviam sofrido repressão policial numa manifestação em frente à casa de Michel Temer. A alegação da PM na ocasião –repetida ontem– foi a necessidade de desobstruir as vias.

Chama a atenção, porém, o fato de que na mesma avenida Paulista, há alguns metros dali, um grupo de pessoas –que defendem desde intervenção militar ao fim de políticas públicas– permanece acampado há mais de dois meses.

Neste caso, a Tropa de Choque só apareceu para tirar “selfies”. A Fiesp ofereceu até filé mignon para a turma. Turma que, mais de uma vez, agrediu quem vestia vermelho, intimidou jornalistas e chegou a exibir paus e pedaços de cano quando uma manifestação da esquerda passou por perto. Contando sempre com a complacência da PM.

Mantiveram inclusive a avenida bloqueada, nos dois sentidos, por 39 horas entre os dias 16 e 17 de março. Só foram retirados da pista depois de muito diálogo e com um carinho quase materno.

O acampamento permanece lá até hoje, reunindo tipos do “lúmpen-empresariado”, artistas decadentes e viúvas dos Jardins. Não tem data para sair e nada indica que serão incomodados. Afinal, trata-se de cidadãos de bem.

Já atentei numa coluna anterior como essa diferença de tratamento se expressa também na contagem do número de manifestantes pela PM. Quando uma manifestação é de agrado do governador, recebe um tratamento. Quando não, o papo é outro. Dois pesos, duas medidas.

Mas, no caso desta quarta-feira, não é apenas a seletividade que espanta. Essa já é uma velha conhecida quando consideramos a ação policial. Polícia que fala grosso na favela e fino em Higienópolis.

É preciso abrir os olhos para uma onda crescente de violência e criminalização das manifestações populares. A Secretária de Segurança alegou em nota –tentando justificar o injustificável de ontem– que seis pessoas foram presas, incluindo Erika, por “periclitação da vida”, isto é, por supostamente colocar em risco a vida de outros.

O absurdo é evidente. Seria de se esperar do governador Geraldo Alckmin (PSDB) e do seu secretário de Segurança o reconhecimento dos abusos e a punição aos policiais responsáveis.

Mas quando alguém que assume o Ministério da Justiça compara ações de movimentos sociais a guerrilha e diz que devem ser tratadas como crime, fica claro que o abuso está chancelado e que os abusadores terão salvo-conduto.

Este artigo foi retirado do site da Folha de S. Paulo.